quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Prelúdio

            Quem sabe eu seja, sim, meio grossa. Nunca fui um exemplo de solicitude e carinho, a não ser comigo mesma. Não tenho vergonha de admitir que sou um tanto (um tanto relativamente expressivo) egoísta. Acho que o egoísmo é intrínseco à felicidade – e todo mundo diz que devemos nos amar acima de tudo, não? Mas a questão é que agora me encontro fria. Fria, inclusive, de várias formas: fisicamente fria, incapaz de aquecer-me com essa indecisão sazonal; mentalmente fria, incapaz de refletir e tomar decisões dignas de uma humana; e emocionalmente fria, incapaz de diversos sentimentos considerados bons. Estou rodeada de um abismo de incapacidade em que eu caí e nunca encostei no rochoso chão.
            A minha falta de idade me condena, é claro, muitos me chamariam de “rainha do drama”. Não, não sou. Se fosse, jamais poderia ser chamada de fria. Drama queens verbalizam todos os seus pensamentos, sentimentos, sensações, afinal, tudo o que passa por seus corpos e mentes. Já em mim tudo tem um cadeado.
            Como havia dito, a minha falta de anos na carteira de identidade entregam uma falsa concepção do que eu sou. Acho engraçado. Nos anos iniciais da minha trajetória educacional, não gostava de contar piadas às minhas colegas porque nunca ninguém entendia. Conseguia ver que os risos eram falsos, e, por favor, explicar piada é a coisa mais patética que existe. Você não consegue torna-la engraçada, só consegue uns olhares estranhos, um “ah, entendi” consensual, só para não te deixar desapontada. O fato é que (por favor, não confunda com autoafirmação) desde sempre me encontro em estágio avançado. Como um embrião que ficou pronto aos oito meses. Vivi muita coisa, com muita intensidade, em silêncio. Acredito que, quando são guardados para si os acontecimentos, eles tomam uma proporção ainda maior e mais nítida; são propriedades suas, súditos das suas conclusões. Uma informação compartilhada perde um pouco da sua “graça”, da sua validade. Segredos são muito melhores que verdades factuais.
            O que mais me incomoda, no entanto, são essas pessoas que passam e olham, mas nunca me decifram. Sinto-me um jogo de palavras cruzadas que nunca se encaixa. Sinto, também, pena de quem um dia tentou jogar-me. Só os decepcionei com meu conjunto de palavras não harmoniosas. Mas me decepcionaram também, no momento em que falharam. Mesmo o mais transparente fio de esperança gera um feedback de dor bem expressivo.
            Penso que, então, todo esse curto tempo vivido me deixou com sequelas possivelmente irreparáveis e que eu, na minha teimosia típica, cultivo com o cuidado que dedico somente a mim. Não faço por mal – a frieza que me é característica é o meu escudo contra o seu calor, que tenta me iludir com a inverdade de um abraço na noite tempestuosa. Não é que não o queira, é que não me permito. Não por enquanto. Quando a verdade brotar e alguém vir com seu Superbonder tentando colar meus pedaços, eu aceitarei de bom grado o reparo nesse coração errante.

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