domingo, 2 de junho de 2013

Neve

Por que a “hora de conversar” é sempre quando eu não preciso? Quando eu preciso conversar com alguém, quando há rios de problemas desaguando no mar dos meus olhos, por que ninguém vem falar comigo?
Sim, toda noite é um martírio. O coração se compacta, aperta-se, e vira um pequenino compartimento de emoções, todas sufocadas pelo abraço das lágrimas. Ah, essas lágrimas que tanto me traem, mas que eu não consigo deixar de invocar nessas noites geladas que eu, por masoquismo, sento de corpo nu no chão gelado e imagino a neve caindo das alturas para me cobrir. Essa neve vem calma, serena. Em seu gelo cortante, ela amortece meu corpo como morfina, fazendo com que tudo parece mais fácil e leve, a dor então se torna mais amena.
Dor. Não há outra palavra que defina melhor os meus dias. Dor da perda de uma grande parte do meu coração, que agora jaz transformado em pedra; dor da espera por uma solução que, estou vendo claramente, só existe no imaginário mundo de maravilhas que criei em minha mente, como bode expiatório da rotina do meu desespero; dor da consciência, por ver meus sonhos, ah, esses pensamentos loucos e falsos que me fazem crer que meu mundo está ou poderá vir a ser melhor, se despedaçarem, decomporem-se em fatores primos até chegar ao número um, para ver que tudo está longe demais para uma garota como eu alcançar.

Então, a neve vai aumentando gradativamente. Cada vez mais e mais, em flocos maiores, imensos flocos brancos que irradiam uma triste paz. Até que um grande manto branco me cobre para todo o sempre.