Por que a “hora
de conversar” é sempre quando eu não preciso? Quando eu preciso conversar com
alguém, quando há rios de problemas desaguando no mar dos meus olhos, por que
ninguém vem falar comigo?
Sim, toda noite
é um martírio. O coração se compacta, aperta-se, e vira um pequenino
compartimento de emoções, todas sufocadas pelo abraço das lágrimas. Ah, essas
lágrimas que tanto me traem, mas que eu não consigo deixar de invocar nessas
noites geladas que eu, por masoquismo, sento de corpo nu no chão gelado e
imagino a neve caindo das alturas para me cobrir. Essa neve vem calma, serena.
Em seu gelo cortante, ela amortece meu corpo como morfina, fazendo com que tudo
parece mais fácil e leve, a dor então se torna mais amena.
Dor. Não há
outra palavra que defina melhor os meus dias. Dor da perda de uma grande parte
do meu coração, que agora jaz transformado em pedra; dor da espera por uma
solução que, estou vendo claramente, só existe no imaginário mundo de
maravilhas que criei em minha mente, como bode expiatório da rotina do meu
desespero; dor da consciência, por ver meus sonhos, ah, esses pensamentos
loucos e falsos que me fazem crer que meu mundo está ou poderá vir a ser
melhor, se despedaçarem, decomporem-se em fatores primos até chegar ao número
um, para ver que tudo está longe demais para uma garota como eu alcançar.
Então, a neve
vai aumentando gradativamente. Cada vez mais e mais, em flocos maiores, imensos
flocos brancos que irradiam uma triste paz. Até que um grande manto branco me
cobre para todo o sempre.