Creio que deveria estar triste neste momento. Sinto um
aperto em algum lugar de minhas entranhas, mas a dor é quente e aconchegante,
confortável até. Uma dor que faz crescer, amadurecer, expandir-me. Por isso, e
por alguma razão que está além do meu alcance, sinto-me incapaz de derramar uma
lágrima sequer de sofrimento. Não foi por falta de tentativas. Espero já faz
uma metade de ano por essa explosão de pranto incontrolável, inconsolável e
incansável. Mas ele não vem.
Atribuí minha indiferença aos bons momentos que vivi. Quem
sabe seriam eles tão importantes e marcantes que já me consolam antes mesmo que
a decepção me receba em sua casa de gelo. Agarro-me a eles com toda a força
física e metal que ainda me resta. Sem eles, apenas um abismo obscuro e frio me
espreita, com olhos de gato me convidando a um salto. Não hei de ceder aos seus
apelos.
Estou contemplando o fim. Eu sei, é uma forma de nega-lo,
uma última e sôfrega esperança, toda em fiapos, toda ensanguentada. Sou uma
expectadora da minha própria tragédia, examinando da plateia enquanto esvaziam
a aljava em meu peito. Padeço suspirando: “Exijo uma catarse desse amor.”
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