sábado, 24 de dezembro de 2011

- Você sabe como é, Jack?

          E a voz dela soou trêmula e ainda mais triste. As mãos, as pernas, o corpo inteiro, tudo tremia naquela cama, naquele quarto escuro. E não era o vento que soprava frio, entrando pela janela; era o coração que ficava cada vez mais gelado. E doía. E se contorcia na dor, como se todos os pesadelos tivessem vindo de além-mar para conduzi-la à máxima agonia. As lágrimas rolavam incontroláveis pelo rosto, como pedras caindo do cume de uma montanha, umedecendo o rosto pálido, as bolsas enegrecidas em torno dos olhos. Elas encharcavam o travesseiro e, daqui a pouco, encharcariam também os lençóis.
            - Você sabe? Não, você não sabe. Você não sente o seu coração ser esmagado... É como se estivesse sendo segurado por duas malditas mãos impiedosas e fortes, apertando-o para fazer com que ele exploda. A dor é imensa, Jack, é tão grande que não sei se consigo suportar...
            Ela sabia que a dor era terrível, não só pelo súbito entendimento, mas ainda mais pela frustração. Ela via-se desacreditada e assistia a vida florescer escura na dura realidade ao seu redor. E essa realidade, definitivamente, não estava presente em nenhum dos seus sonhos. Estava tão bom, presa nas amarras da fantasia, nos seus devaneios quase eternos... Por que raios ela teve que acordar para vida? Ah! Porque a vida faz questão de estragar qualquer coisa boa. Faz questão de esfregar na cara das pessoas que ela não é fácil para ninguém, que ela é perversa e sofrida. Ela está sempre lá, como um buraco negro, só que invisível, esperando para sugar qualquer um que sonhe, que deseje algo bom. Ela percebeu que estava sozinha, então, vendo um mundo desumano e cruel prestes a atacá-la a qualquer momento.
            O frio estava aumentando e a escuridão ainda mais. Ela já não sabia distinguir o lugar em que estava, a não ser pela cama de travesseiro e lençol molhado. A última coisa que sentiu foi a mão friamente macia e aconchegante de Jack tocando o seu rosto, e então dormiu. Secretamente, ambos sentiram que ela não acordaria novamente.

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