Bom dia. Mal são sete
horas da manhã e eu já acendi o primeiro cigarro. É engraçado como fumar de
olhos fechados não te proporciona o mesmo efeito do que tragar duas mil
substâncias tóxicas com as pálpebras bem abertas. É como se o fato de você não
vir a fumaça saindo da tua boca bloqueasse todo o efeito calmante que o cigarro
tem – sequer o gosto do tabaco eu senti na minha boca.
Mas isso foi outra coisa que ele me disse. Dentre as
tantas coisas faladas nos últimos dois meses, a psicologia do cigarro foi a
última que permaneceu na minha cabeça. Não que eu não valorize todas as outras
conversas, mas as coisas que não foram ditas, mentidas ou omitidas, é que
teimam em permanecer e latejar na minha memória. Se palavras têm poder de
machucar e destruir as nossas construções, não falar absolutamente nada dá
espaço para que minha imaginação – nesses casos, sempre muito fértil – preencha
as lacunas com as respostas que eu suponho. E, quase nunca, elas são boas
respostas para mim.
Eu entendo que normalmente eu tenho pressa para resolver
as coisas e saber as ditas respostas o quanto antes. Entendo, também, que a
maioria das pessoas não funciona como eu – por mais fechada e resistente que eu
seja, quando alguém encontra uma brecha na minha concha, eu tendo a acolher o
intruso como um dos meus. E isso, meu caro, é intenso até demais para os meus
padrões.
Entretanto, é difícil não buscar essas respostas
incessantemente e, com isso, aumentar os níveis de cobrança de uma coisa que
sequer tem nome ainda (“o que somos um para o outro?” é uma das perguntas que
eu me faço todos os dias). Essa pressão é perigosa e eu, num lapso altruísta
que não me é natural, prefiro não fazê-la. Então, o acúmulo de perguntas e
repostas supostas apenas pelo meu inconsciente me faz ter a pior insônia do
semestre, no meio de um feriado, e levantar antes da sete acender esse cigarro.
Mas eu fumo de olhos abertos, porque
a sua psicologia não se aplica a mim.